Poema em comemoração aos 70 anos de emancipação política de São Mamede
01/05/1954 a 01/05/2024
A alegria era parte da maldade
Infinita á cacimba da ganância,
Oriunda da abjeta petulância
Império presumido da vaidade,
Flor fértil da irracionalidade
Que ainda tem o ranço da senzala
Sufocando o gemido de quem fala
Pela força da malta brutamonte,
A latada do terreiro era a fonte
Que fartava a bulimia da mala.
Pão e circo, o "banquete". Eia, viva o Rei!
Vibrava a multidão embriagada
De angústia e moralmente fadigada,
Domando a dor ao arrepio da lei,
Sonda-se o canto leve com Sirlei
Ao deus como preceitua a cabala,
Legitimando o grito que se cala
Nas ágoras sem a paz que o afronte,
A latada do terreiro era o fonte,
Que fartava a bulimia da mala.
Os acordes despertavam o eirado
Despedindo-se do dia faminto,
No monturo soturno do recinto
O rentismo se dava celerado.
Pelas mãos do eufórico desairado,
A honradez melindrosa se abala
Cai por terra e na cautela da sala
Ouve a ordem soberana do arconte
A latada do terreiro era a fonte,
Que fartava a bulimia da mala.
Os sorrisos enfeitavam a noite,
Mas os rostos refletiam o dia
Tedioso, servil, sem ousadia,
Sem éolo nem borrasca que o açoite,
Nem ao menos a aragem da sonoute
Acalmava a tempestade que embala
A tristeza da chusma que combala
Com o peso da morte sobre a fronte,
A latada do terreiro era a fonte,
Que fartava a bulimia da mala.
Mário Bento de Morais